Beatriz Lemos e Pablo Terra
Rio de Janeiro, março de 2010. Em uma parte da cidade entre a gigante Avenida Brasil e a poluída Baía de Guanabara uma comunidade se empenha em contar sua história. Setenta anos de resistência de um bairro erguido sobre a água. O Complexo da Maré, composto por 17 favelas e conjuntos habitacionais, tem como imaginário a palafita e como vocação a persistência. Um território ocupado, já no início dos anos 1940, por um in-tenso processo de invasão e desapropriação de outras favelas (deslocamento habitacional) por parte do governo, e que hoje se configura como um dos complexos de favelas mais populo-sos da cidade e o primeiro a ter um museu. Com atenção à importância de sua memória, arquivos pessoais e relatos orais de gerações se transformaram em documentos abertos ao pú-blico. Essa história é contada em diferentes tempos, nos apro-xima, aos poucos, das particularidades desse lugar e revela o olhar de sua gente para a água, moradia sobre os mangues, lazer, infância e o medo no passado e no presente.
Mergulhado nesse contexto, o projeto Arte in Loco estruturou a segunda fase do intercâmbio entre Argentina e Brasil com a proposta de pensar e vivenciar esse bairro. Composto por seis artistas e o desejo de um diálogo horizontal entre arte e co-munidade.
Após um mês em Buenos Aires, a residência se transfere para o Rio de Janeiro com dois novos integrantes e uma dinâmica de oficinas no Museu da Maré. Durante este mês Belén Romero Gunset, Daniel Murgel, Ezequiel Semo, Joana Traub Csekö, Lu-ciana Lamothe e Yuri Firmeza se dedicam às experimentações do espaço e da convivência. Heterogêneo nas linguagens a-bordadas, o grupo se une em torno da pesquisa comum de um pensamento crítico sobre a contemporaneidade e seus agentes sociais. O fato de atuar em um contexto de favela carioca se apresenta como estimulante oportunidade poética, onde cada artista percorre seus respectivos caminhos de mediação.
Numa tentativa de se esquivar do modelo tradicional de pales-tra, porém atentando para a importância do momento de fala e troca direta, o projeto propõe encontros práticos e reflexivos com cada um dos artistas, realizados no museu e abertos às comunidades da Maré e à artística.
Com a alegria de um encerramento de ciclo esta exposição e residência ganha um gosto especial de trabalho cumprido. Par-cerias se estreitam e afetos são confirmados. Na sala do apar-tamento alugado em Santa Teresa a intuição se torna certeza: convivência, colaboração e produção são palavras/ações onde a tradução se aprende dia após dia e caminham juntas com a especificidade de situações ou particularidades de cada país.
quinta-feira, 25 de março de 2010
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